Comissões de heteroidentificação racial para acesso em universidades federais

Autores

Palavras-chave:

Ação Afirmativa, Cotas, Educação Superior, Universidade Federal

Resumo

O artigo analisa a política de cota racial para acesso à educação superior em uma universidade federal brasileira em seu mais recente ajuste: a instalação de uma comissão de heteroidentificação racial que se baseia no fenótipo dos(das) candidatos(as). A base epistemológico-metodológica parte de uma análise crítica da política, entendendo que a construção dessa ação pública é fruto de embates e disputas entre atores com diferentes concepções de justiça social. O resultado da pesquisa aponta que, na universidade estudada, a instalação da comissão de heteroidentificação retraiu significativamente, desde a implementação da cota racial, em 2008, o acesso de pessoas autodeclaradas negras, indicando que as comissões colocam em causa o significado do que é ser pessoa negra no Brasil.

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Biografia do Autor

Neusa Chaves Batista, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre (RS), Brasil.

Doutora em Educação e professora associada da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pertence ao Departamento de Estudos Básicos (DEBAS), área de Sociologia da Educação. 

Hodo Apolinário Coutinho de Figueiredo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre (RS), Brasil.

Técnico educacional da UFRGS. Atua na Coordenadoria de Ações Afirmativas (CAF). É mestrando em Educação.

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Publicado

08-10-2020

Como Citar

Batista, N. C., & Figueiredo, H. A. C. de. (2020). Comissões de heteroidentificação racial para acesso em universidades federais. Cadernos De Pesquisa, 50(177), 865–881. Recuperado de https://publicacoes.fcc.org.br/cp/article/view/7264

Edição

Seção

Artigos