Bullying entre meninas: tramas relacionais da construção de identidades de gênero
Palavras-chave:
bullying, gênero, socialização, adolescênciaResumo
Este estudo etnográfico realizado em duas escolas públicas de ensino fundamental II, de São Paulo e Salvador, analisa como meninas adolescentes negociam identidades de gênero nas tramas relacionais do bullying. Conformando um processo de controle social, o bullying assenta-se em jogos de diferenças que conduzem à apreensão de normas de gênero. A discussão do bullying como violência de gênero mostra como meninas manipulam categorizações e atributos femininos tradicionais para promover distinções sociais e desigualdades de poder entre elas. As disputas por poder e status subsidiam o ordenamento social do grupo, por meio da regulação da sexualidade e de comportamentos estereotipados de delicadeza e cuidado feminino, mas também possibilitam a reivindicação de valores e práticas igualitários.
Downloads
Referências
ARMSTRONG, Elizabeth A. et al. Good girls: gender, social class, and slut discourse on campus. Social Psychology Quarterly, v. 77, n. 2, p. 100-122, 2014.
BESAG, Valerie. Understanding girls’ friendships, fights and feuds: a practical approach to girls’ bullying. Maidenhead: Open University Press, 2007.
BHANA, Deevia. Virginity and virtue: African masculinities and femininities in the making of teenage sexual cultures. Sexualities, v. 19, n. 4, p. 465-481, 2016.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 11. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.
BRAGG, Sara et al. “More than boy, girl, male, female”: exploring young people’s views on gender diversity within and beyond school contexts. Sex Education, v. 18, n. 4, p. 420-434, 2018.
BRASIL. Lei n. 13.663, de 14 de maio de 2018. Inclui a promoção de medidas de conscientização, de prevenção e de combate à violência sistemática e a promoção da cultura de paz entre as incumbências dos estabelecimentos de ensino. Brasília, DF, 2018.
BUDGEON, Shelley. The dynamics of gender hegemony: femininities, masculinities and social change. Sociology, v. 48, n. 2, p. 317-334, 2014.
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo. In: LOURO, G. (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p. 151-172.
CAMACHO, Luiza. As sutilezas das faces da violência nas práticas escolares de adolescentes. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 27, n. 1, p. 123-140, jan./jun. 2001.
CARNEIRO, Deivy. Mulheres honestas e que a todos tratam bem: relações de gênero e violência verbal em Juiz de Fora (Minas Gerais). Ler História, n. 62, p. 87-99, 2012.
CHAMBERS, Deborah; TINCKNELL, Estella; VAN LOON, Joost. Peer regulation of teenage sexual identities. Gender & Education, v. 16, n. 3, p. 387-415, 2004.
CONNELL, Robert. Gender. Cambridge: Polity Press, 2002.
CORDEIRO, Rosineide et al. Meninas de moral: experiências socioeducativas em um bairro popular do Recife. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 30, n. 1, p. 188-199, 2010.
CURRIE, Dawn; KELLY, Deidre; POMERANTZ, Shauna. The power to squ ash people: understanding girls’ relational aggression. British Journal of Sociology of Education, v. 28, n. 1, p. 23-37, 2007.
DAS, Veena. Life and words: violence and the descent into the ordinary. Berkeley: University of California Press, 2007.
DAS, Veena. O ato de testemunhar: violência, gênero e subjetividade. Cadernos Pagu, Campinas, n. 37, p. 9-41, jul./dez. 2011.
DORAN, Miriam. An ethnography in an Irish girls secondary school: exploring how hegemony and power mediate agency and structure. Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing, 2015.
DUNCAN, Neil. It’s important to be nice, but it’s nicer to be important: girls, popularity and sexual competition. Sex Education, v. 4, n. 2, p. 137-148, 2004.
EDER, Donna; EVANS, Catherine; PARKER, Stephen. School talk: gender and adolescent culture. New Brunswick: Rutgers University Press, 2003.
FINE, Gary A. Rumors and gossiping. In: VAN DIJK, T. (org.). Handbook of discourse analysis. London: Academic Press, 1985. p. 223-237.
FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. 13. ed. São Paulo: Contexto, 2005.
FJAER, Eivind; PEDERSEN, Willy; SANDBERG, Sveinung. “I’m not one of those girls”: boundary-work and the sexual double standard in a liberal hookup context. Gender & Society, v. 29, n. 6, p. 960-981, 2015.
FONSECA, Claudia. Família, fofoca e honra: etnografia das relações de gênero e violência em grupos populares. 2. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.
GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. 15. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
GOODWIN, Marjorie. The hidden life of girls: games of stance, status and exclusion. Malden: Blackwell, 2006.
GREGORI, Maria Filomena. Limites da sexualidade: violência, gênero e erotismo. Revista de Antropologia da USP, São Paulo, v. 51, n. 2, p. 575-606, 2008.
HARRIS, Anita (ed.). All about the girl: culture, power and identity. New York: Routledge, 2004.
HEILBORN, Maria Luiza; CABRAL, Cristiane; BOZON, Michel. Valores sobre sexualidade e elenco de práticas: tensões entre modernização diferencial e lógicas tradicionais. In: HEILBORN, M. L.; AQUINO, E. M.; BOZON, M.; KNAUTH, D. (org.). O aprendizado da sexualidade: reprodução e trajetórias sociais de jovens brasileiros. Rio de Janeiro: Garamond; Fiocruz, 2006. p. 207-266.
HEY, Valerie. The company she keeps: an ethnography of girls’ friendship. Buckingham: Open University press, 1997.
KEHILY, Mary Jane. Sexuality, gender and schooling: shifting agendas in social learning. London: Routledge, 2004.
LAMB, Sharon. The secret lives of girls: what good girls really do: sex play, aggression, and their guilt. New York: Free, 2002.
LAQUEUR, Thomas W. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
LOURO, Guacira. Corpo, escola e identidade. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 25, n. 2, p. 59-75, jul./dez. 2000.
MAGALHÃES, Magna; ARAÚJO, Denise; SCHEMES, Claudia. Queixosas e valentes: as mulheres e a visibilidade da violência cotidiana. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 21, n. 3, p. 839-859, set./dez. 2013.
MEAN girls. Direção: Mark Waters. New York: Broadway Video/M. G. Films, 2004. 1 DVD (97 min.).
MELLO, Flávia C. et al. A prática de bullying entre escolares brasileiros e fatores associados, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 9, p. 2939-2948, set. 2017.
MELLO, Luiz; SOUZA, Marta; SANTOS, Nara. Sexualidades de estudantes universitários: um estudo sobre valores, crenças e práticas sociais na cidade de Goiânia. Sociedade e Cultura, Goiânia, v. 11, n. 1, p. 102-111, jan./jun. 2008.
MCROBBIE, Angela. The aftermath of feminism: gender, culture and social change. London: Sage, 2009.
MILLER, Sara. How you bully a girl: sexual drama and the negotiation of gendered sexuality in high school. Gender & Society, v. 30, n. 5, p. 721-744, 2016.
MINAYO, Maria Cecília. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco, 2014.
MIRANDA, Ana Paula; MAIA, Bóris. Olhares, xingamentos e agressões físicas: a presença e a (in)visibilidade de conflitos referentes às relações de gênero em escolas públicas do Rio de Janeiro. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 23, n. 49, p. 177-202, set./dez. 2017.
NEVES, Paulo Rogério. As meninas de agora estão piores do que os meninos: gênero, conflito e violência na escola. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
OWENS, Laurence; SHUTE, Rosalyn; SLEE, Phillip. “Guess what I just heard!” Indirect aggression among teenage girls in Australia. Aggressive Behavior, v. 26, n. 1, p. 67-83, 2000.
PAIS, José Machado. Máscaras, jovens e “escolas do diabo”. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 13, n. 37, p. 7-21, jan./abr. 2008.
PEREIRA, Maria do Mar. Fazendo género no recreio: a negociação do género em espaço escolar. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 2012.
PISCITELLI, Adriana. Apresentação: gênero no mercado do sexo. Cadernos Pagu, Campinas, n. 25, p. 7-23, jul./dez. 2005.
PITT-RIVERS, Julian. Honra e posição social. In: PERISTIANY, J. (org.). Honra e vergonha: valores das sociedades mediterrânicas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1988. p. 11-60.
RENOLD, Emma. Girls, boys and junior sexualities: exploring children’s gender and sexual relations in the primary school. London: Routledge Falmer, 2005.
RINGROSE, Jessica. Just be friends: exposing the limits of educational bully discourses for understanding teen girls’ heterosexualized friendships and conflicts. British Journal of Sociology of Education, v. 29, n. 5, p. 509-522, 2008.
RINGROSE, Jessica; RENOLD, Emma. Normative cruelties and gender deviants: the performative effects of bully discourses for girls and boys in school. British Educational Research Journal, v. 36, n. 4, p. 573-596, 2010.
SALES, Shirlei; PARAÍSO, Marlucy. O jovem macho e a jovem difícil: governo da sexualidade no currículo. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 38, n. 2, p. 603-625, abr./jun. 2013.
SANTOS, Hugo; SILVA, Sofia; MENEZES, Isabel. Para uma visão complexa do bullying homofóbico: desocultando o quotidiano da homofobia nas escolas. Ex aequo, Lisboa, n. 36, p. 117-132, dez. 2017.
SCHALET, Amy. Subjectivity, intimacy, and the empowerment paradigm of adolescent sexuality: the unexplored room. Feminist Studies, v. 35, n. 1, p. 133-160, 2009.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 71-99, jul./dez. 1995.
SEBASTIÃO, João; ALVES, Mariana; CAMPOS, Joana. Violência na escola: das políticas aos quotidianos. Sociologia, Problemas e Práticas, Oeiras, n. 41, p. 38-39, jan. 2003.
SEGATO, Rita Laura. Las estructuras elementales de la violência: ensayos sobre género entre la antropología, el psicoanálisis y los derechos humanos. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes, 2003.
SHELDON, Amy. You can be the baby brother, but you aren’t born yet: preschool girls’ negotiation of power and access in pretend play. Research on Language and Social Interaction, v. 29, n. 1, p. 57-80, 1996.
SIMMONS, Rachel. Odd girl out: the hidden culture of aggression in girls. 2nd ed. New York: Harcourt, 2011. 1ª edição publicada em 2002.
SOUZA, Bruna M. Mulheres de fibra: narrativas e o ato de narrar entre usuárias e trabalhadoras de um serviço de atenção a vítimas de violência na periferia de São Paulo. 2015. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2015.
THIRTEEN. Direção: Catherine Hardwicke. London: Working Title Films, 2003. 1 DVD (100 min.).
TOLMAN, Deborah. Dilemmas of desire: teenage girls talk about sexuality. Cambridge: Harvard University Press, 2005.
WISEMAN, Rosalind. Queen bees and wannabes: helping your daughter survive cliques, gossip, boyfriends, and other realities of adolescence. New York: Three Rivers, 2002.
WHITE, Emily. Fast girls: teenage tribes and the myth of the slut. New York: Scribner, 2002.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2019 Cadernos de Pesquisa
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by-nc/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a. Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho on-line (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).