Pode um currículo aquilombar-se?

Autores

  • Eliana Povoas Pereira Estrela Brito Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB); Itabuna (BA), Brasil
  • Amilton Santos Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB); Itabuna (BA), Brasil http://orcid.org/0000-0003-3856-4197
  • Michelle Matos Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB); Itabuna (BA), Brasil http://orcid.org/0000-0003-1876-0369

Palavras-chave:

Comunidades Quilombolas, Escola, Cultura, Currículo

Resumo

Este artigo discute a importância atribuída às escolas pelas comunidades quilombolas. Defende o argumento de que a escola e suas práticas, seus modos de organização e funcionamento se constituem em aquilombamento, entendido como uma forma de resistir às imposições coloniais e assegurar a existência da cultura, tradições e heranças ancestrais dessas comunidades. A pesquisa, realizada na escola do quilombo Tomé Nunes, na Bahia, utilizou-se de entrevistas e observações participativas para a coleta de dados e concluiu que a luta por um currículo aquilombado em seus aspectos políticos, geográficos, históricos e culturais se constitui em práticas de resistência diante das imposições colonialistas prescritas pelas atuais políticas curriculares.

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Biografia do Autor

Eliana Povoas Pereira Estrela Brito, Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB); Itabuna (BA), Brasil

Graduada em Licenciatura em Pedagogia pela Fundação Universidade do Rio Grande (FURG), Mestre e Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é professora associada da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), tendo vindo redistribuída, em 2014, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Em 2006, integrou a Comissão Especial para implantação da UNIPAMPA – Universidade Federal do Pampa, como professora representante da Universidade Federal de
Pelotas (UFPel). Nesta universidade, esteve, no período de 2007 a 2011, na função de Pró-Reitora de Graduação. Possuo experiência acadêmica
no campo da formação de professores atuando tanto como professora, quanto como pesquisadora na área do Currículo e Formação Docente, com ênfase, especialmente, em políticas de formação de professores e currículo.

Amilton Santos, Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB); Itabuna (BA), Brasil

Mestre em Ensino e Relações Étnico-Raciais pela Universidade Federal do  Sula da Bahia.

Michelle Matos, Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB); Itabuna (BA), Brasil

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais da Universidade Federal do Sul da Bahia.

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Publicado

04-08-2020

Como Citar

Brito, E. P. P. E., Santos, A., & Matos, M. (2020). Pode um currículo aquilombar-se?. Cadernos De Pesquisa, 50(176), 429–443. Recuperado de https://publicacoes.fcc.org.br/cp/article/view/6924

Edição

Seção

Artigos