Bullying entre meninas: tramas relacionais da construção de identidades de gênero

Autores

  • Jamile Guimarães Departamento de Saúde, Ciclos de vida e Sociedade, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo
  • Cristiane da Silva Cabral Departamento de Saúde, Ciclos de vida e Sociedade, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo

Palavras-chave:

bullying, gênero, socialização, adolescência

Resumo

Este estudo etnográfico realizado em duas escolas públicas de ensino fundamental II, de São Paulo e Salvador, analisa como meninas adolescentes negociam identidades de gênero nas tramas relacionais do bullying. Conformando um processo de controle social, o bullying assenta-se em jogos de diferenças que conduzem à apreensão de normas de gênero. A discussão do bullying como violência de gênero mostra como meninas manipulam categorizações e atributos femininos tradicionais para promover distinções sociais e desigualdades de poder entre elas. As disputas por poder e status subsidiam o ordenamento social do grupo, por meio da regulação da sexualidade e de comportamentos estereotipados de delicadeza e cuidado feminino, mas também possibilitam a reivindicação de valores e práticas igualitários.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Jamile Guimarães, Departamento de Saúde, Ciclos de vida e Sociedade, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo

Socióloga com bacharelado pela Universidade Federal da Bahia, mestrado em Saúde Comunitária pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC-UFBA) e doutorado em Saúde Pública na área de Gênero, Sexualidade e Saúde pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP). Desenvolve investigações interdisciplinares sobre juventude, relações de gênero, sexualidade, violência e promoção da saúde com enfoque nos processos de construção identitária em ambientes de participação social, comunidades empobrecidas e escolares.

Cristiane da Silva Cabral, Departamento de Saúde, Ciclos de vida e Sociedade, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo

Professora do Departamento Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-USP). Possui bacharelado em Psicologia, formação de Psicólogo e residência em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É doutora em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com pós-doutorado pelo Núcleo de Estudos de População da Universidade Estadual de Campinas (NEPO-UNICAMP). Tem dedicado seus estudos a temáticas relativas a juventude, relações de gênero, família, contracepção, sexualidade e reprodução sob a perspectiva que integra as metodologias qualitativa e quantitativa de pesquisa.

Referências

ARMSTRONG, Elizabeth A. et al. Good girls: gender, social class, and slut discourse on campus. Social Psychology Quarterly, v. 77, n. 2, p. 100-122, 2014.

BESAG, Valerie. Understanding girls’ friendships, fights and feuds: a practical approach to girls’ bullying. Maidenhead: Open University Press, 2007.

BHANA, Deevia. Virginity and virtue: African masculinities and femininities in the making of teenage sexual cultures. Sexualities, v. 19, n. 4, p. 465-481, 2016.

BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 11. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.

BRAGG, Sara et al. “More than boy, girl, male, female”: exploring young people’s views on gender diversity within and beyond school contexts. Sex Education, v. 18, n. 4, p. 420-434, 2018.

BRASIL. Lei n. 13.663, de 14 de maio de 2018. Inclui a promoção de medidas de conscientização, de prevenção e de combate à violência sistemática e a promoção da cultura de paz entre as incumbências dos estabelecimentos de ensino. Brasília, DF, 2018.

BUDGEON, Shelley. The dynamics of gender hegemony: femininities, masculinities and social change. Sociology, v. 48, n. 2, p. 317-334, 2014.

BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo. In: LOURO, G. (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p. 151-172.

CAMACHO, Luiza. As sutilezas das faces da violência nas práticas escolares de adolescentes. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 27, n. 1, p. 123-140, jan./jun. 2001.

CARNEIRO, Deivy. Mulheres honestas e que a todos tratam bem: relações de gênero e violência verbal em Juiz de Fora (Minas Gerais). Ler História, n. 62, p. 87-99, 2012.

CHAMBERS, Deborah; TINCKNELL, Estella; VAN LOON, Joost. Peer regulation of teenage sexual identities. Gender & Education, v. 16, n. 3, p. 387-415, 2004.

CONNELL, Robert. Gender. Cambridge: Polity Press, 2002.

CORDEIRO, Rosineide et al. Meninas de moral: experiências socioeducativas em um bairro popular do Recife. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 30, n. 1, p. 188-199, 2010.

CURRIE, Dawn; KELLY, Deidre; POMERANTZ, Shauna. The power to squ ash people: understanding girls’ relational aggression. British Journal of Sociology of Education, v. 28, n. 1, p. 23-37, 2007.

DAS, Veena. Life and words: violence and the descent into the ordinary. Berkeley: University of California Press, 2007.

DAS, Veena. O ato de testemunhar: violência, gênero e subjetividade. Cadernos Pagu, Campinas, n. 37, p. 9-41, jul./dez. 2011.

DORAN, Miriam. An ethnography in an Irish girls secondary school: exploring how hegemony and power mediate agency and structure. Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing, 2015.

DUNCAN, Neil. It’s important to be nice, but it’s nicer to be important: girls, popularity and sexual competition. Sex Education, v. 4, n. 2, p. 137-148, 2004.

EDER, Donna; EVANS, Catherine; PARKER, Stephen. School talk: gender and adolescent culture. New Brunswick: Rutgers University Press, 2003.

FINE, Gary A. Rumors and gossiping. In: VAN DIJK, T. (org.). Handbook of discourse analysis. London: Academic Press, 1985. p. 223-237.

FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. 13. ed. São Paulo: Contexto, 2005.

FJAER, Eivind; PEDERSEN, Willy; SANDBERG, Sveinung. “I’m not one of those girls”: boundary-work and the sexual double standard in a liberal hookup context. Gender & Society, v. 29, n. 6, p. 960-981, 2015.

FONSECA, Claudia. Família, fofoca e honra: etnografia das relações de gênero e violência em grupos populares. 2. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.

GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. 15. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

GOODWIN, Marjorie. The hidden life of girls: games of stance, status and exclusion. Malden: Blackwell, 2006.

GREGORI, Maria Filomena. Limites da sexualidade: violência, gênero e erotismo. Revista de Antropologia da USP, São Paulo, v. 51, n. 2, p. 575-606, 2008.

HARRIS, Anita (ed.). All about the girl: culture, power and identity. New York: Routledge, 2004.

HEILBORN, Maria Luiza; CABRAL, Cristiane; BOZON, Michel. Valores sobre sexualidade e elenco de práticas: tensões entre modernização diferencial e lógicas tradicionais. In: HEILBORN, M. L.; AQUINO, E. M.; BOZON, M.; KNAUTH, D. (org.). O aprendizado da sexualidade: reprodução e trajetórias sociais de jovens brasileiros. Rio de Janeiro: Garamond; Fiocruz, 2006. p. 207-266.

HEY, Valerie. The company she keeps: an ethnography of girls’ friendship. Buckingham: Open University press, 1997.

KEHILY, Mary Jane. Sexuality, gender and schooling: shifting agendas in social learning. London: Routledge, 2004.

LAMB, Sharon. The secret lives of girls: what good girls really do: sex play, aggression, and their guilt. New York: Free, 2002.

LAQUEUR, Thomas W. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.

LOURO, Guacira. Corpo, escola e identidade. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 25, n. 2, p. 59-75, jul./dez. 2000.

MAGALHÃES, Magna; ARAÚJO, Denise; SCHEMES, Claudia. Queixosas e valentes: as mulheres e a visibilidade da violência cotidiana. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 21, n. 3, p. 839-859, set./dez. 2013.

MEAN girls. Direção: Mark Waters. New York: Broadway Video/M. G. Films, 2004. 1 DVD (97 min.).

MELLO, Flávia C. et al. A prática de bullying entre escolares brasileiros e fatores associados, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 9, p. 2939-2948, set. 2017.

MELLO, Luiz; SOUZA, Marta; SANTOS, Nara. Sexualidades de estudantes universitários: um estudo sobre valores, crenças e práticas sociais na cidade de Goiânia. Sociedade e Cultura, Goiânia, v. 11, n. 1, p. 102-111, jan./jun. 2008.

MCROBBIE, Angela. The aftermath of feminism: gender, culture and social change. London: Sage, 2009.

MILLER, Sara. How you bully a girl: sexual drama and the negotiation of gendered sexuality in high school. Gender & Society, v. 30, n. 5, p. 721-744, 2016.

MINAYO, Maria Cecília. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco, 2014.

MIRANDA, Ana Paula; MAIA, Bóris. Olhares, xingamentos e agressões físicas: a presença e a (in)visibilidade de conflitos referentes às relações de gênero em escolas públicas do Rio de Janeiro. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 23, n. 49, p. 177-202, set./dez. 2017.

NEVES, Paulo Rogério. As meninas de agora estão piores do que os meninos: gênero, conflito e violência na escola. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

OWENS, Laurence; SHUTE, Rosalyn; SLEE, Phillip. “Guess what I just heard!” Indirect aggression among teenage girls in Australia. Aggressive Behavior, v. 26, n. 1, p. 67-83, 2000.

PAIS, José Machado. Máscaras, jovens e “escolas do diabo”. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 13, n. 37, p. 7-21, jan./abr. 2008.

PEREIRA, Maria do Mar. Fazendo género no recreio: a negociação do género em espaço escolar. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 2012.

PISCITELLI, Adriana. Apresentação: gênero no mercado do sexo. Cadernos Pagu, Campinas, n. 25, p. 7-23, jul./dez. 2005.

PITT-RIVERS, Julian. Honra e posição social. In: PERISTIANY, J. (org.). Honra e vergonha: valores das sociedades mediterrânicas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1988. p. 11-60.

RENOLD, Emma. Girls, boys and junior sexualities: exploring children’s gender and sexual relations in the primary school. London: Routledge Falmer, 2005.

RINGROSE, Jessica. Just be friends: exposing the limits of educational bully discourses for understanding teen girls’ heterosexualized friendships and conflicts. British Journal of Sociology of Education, v. 29, n. 5, p. 509-522, 2008.

RINGROSE, Jessica; RENOLD, Emma. Normative cruelties and gender deviants: the performative effects of bully discourses for girls and boys in school. British Educational Research Journal, v. 36, n. 4, p. 573-596, 2010.

SALES, Shirlei; PARAÍSO, Marlucy. O jovem macho e a jovem difícil: governo da sexualidade no currículo. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 38, n. 2, p. 603-625, abr./jun. 2013.

SANTOS, Hugo; SILVA, Sofia; MENEZES, Isabel. Para uma visão complexa do bullying homofóbico: desocultando o quotidiano da homofobia nas escolas. Ex aequo, Lisboa, n. 36, p. 117-132, dez. 2017.

SCHALET, Amy. Subjectivity, intimacy, and the empowerment paradigm of adolescent sexuality: the unexplored room. Feminist Studies, v. 35, n. 1, p. 133-160, 2009.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 71-99, jul./dez. 1995.

SEBASTIÃO, João; ALVES, Mariana; CAMPOS, Joana. Violência na escola: das políticas aos quotidianos. Sociologia, Problemas e Práticas, Oeiras, n. 41, p. 38-39, jan. 2003.

SEGATO, Rita Laura. Las estructuras elementales de la violência: ensayos sobre género entre la antropología, el psicoanálisis y los derechos humanos. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes, 2003.

SHELDON, Amy. You can be the baby brother, but you aren’t born yet: preschool girls’ negotiation of power and access in pretend play. Research on Language and Social Interaction, v. 29, n. 1, p. 57-80, 1996.

SIMMONS, Rachel. Odd girl out: the hidden culture of aggression in girls. 2nd ed. New York: Harcourt, 2011. 1ª edição publicada em 2002.

SOUZA, Bruna M. Mulheres de fibra: narrativas e o ato de narrar entre usuárias e trabalhadoras de um serviço de atenção a vítimas de violência na periferia de São Paulo. 2015. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2015.

THIRTEEN. Direção: Catherine Hardwicke. London: Working Title Films, 2003. 1 DVD (100 min.).

TOLMAN, Deborah. Dilemmas of desire: teenage girls talk about sexuality. Cambridge: Harvard University Press, 2005.

WISEMAN, Rosalind. Queen bees and wannabes: helping your daughter survive cliques, gossip, boyfriends, and other realities of adolescence. New York: Three Rivers, 2002.

WHITE, Emily. Fast girls: teenage tribes and the myth of the slut. New York: Scribner, 2002.

Downloads

Publicado

30-04-2019

Como Citar

Guimarães, J., & Cabral, C. da S. (2019). Bullying entre meninas: tramas relacionais da construção de identidades de gênero. Cadernos De Pesquisa, 49(171), 160–179. Recuperado de https://publicacoes.fcc.org.br/cp/article/view/5708

Edição

Seção

Artigos