Juvenilização da EJA como efeito colateral das políticas de responsabilização

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18222/eae.v0ix.5013

Palavras-chave:

Responsabilização, Educação de Jovens e Adultos (EJA), Qualidade da Educação, Avaliação da Educação.

Resumo

O fenômeno denominado Juvenilização da Educação de Jovens e Adultos (EJA) é analisado no presente artigo como consequência da expulsão de jovens em defasagem idade-série da escola regular. O pressuposto é que o fenômeno tem se intensificado na medida em que a correção de fluxo tem funcionado como mecanismo de escape, utilizado por gestores com o objetivo de evitar as sanções previstas nas políticas de responsabilização às escolas e aos professores que não alcançam as metas de desempenho estabelecidas pelas diferentes esferas do sistema. São utilizados dados estatísticos sobre o histórico de matrículas na EJA na rede municipal de ensino da cidade do Rio de Janeiro para sustentar que as políticas de avaliação em larga escala, anunciadas como garantidoras da qualidade da educação, têm favorecido a manutenção de processos de exclusão escolar. Aportes pós-estruturalistas, em especial a Teoria do Discurso, sustentam a problematização de uma concepção instrumental de qualidade.

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Biografia do Autor

Talita Vidal Pereira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro-RJ, Brasil

A pesquisadora é Procientista UERJ/FAPERJ. Doutora em Educação pela UERJ. Professora adjunta na Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ lotada no Departamento de Formação de Professores da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF) É professora Permanente do Programa de Pós-graduação em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas (PPGECC-UERJ) e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação (PROPEd-UERJ). É líder do Grupo de Pesquisa Currículo: conhecimento & cultura (CNPQ). Integra os Grupos de Pesquisa Currículo, Formação e Educação em Direitos Humanos e Políticas de Currículo e Cultura. Participa da Rede Latino-americana de Teoria do Discurso e do Grupo de Trabalho de Currículo (GT 12) da Anped. É sócia da Associação Brasileira de Currículo (ABdC). Coordenadora do PPGECC/FEBF/UERJ (2014-2017). Mestre em Educação pela UFRJ e Licenciada em Química pela UFRJ. Atuação na Educação Básica de 1985 a 2012. Produção acadêmica orientada principalmente para os seguintes temas: Currículo; Políticas curriculares, Currículo e Avaliação da Aprendizagem, Cultura; Conhecimento, Formação Docente.

Roberta Avoglio Alves Oliveira, Secretaria Municipal de Educação de Duque de Caxias; Fundação de Apoio à Escola Técnica, Rio de Janeiro-RJ, Brasil

Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação, Cultura e Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF). Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal Fluminense (2004), com Especialização em Psicopedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2007). Atua como Professora I-Orientadora Educacional da Secretaria Municipal de Educação de Duque de Caxias/RJ e Orientadora Educacional da Fundação de Apoio à Escola Técnica. Tem experiência na área de Educação, principalmente nos seguintes temas: Alfabetização, Orientação Educacional, Educação Popular, Avaliação da Aprendizagem e Educação de Jovens e Adultos.

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Publicado

31-08-2018

Como Citar

Pereira, T. V., & Oliveira, R. A. A. (2018). Juvenilização da EJA como efeito colateral das políticas de responsabilização. Estudos Em Avaliação Educacional, 29(71), 528–553. https://doi.org/10.18222/eae.v0ix.5013

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Artigos