Resistências institucionais e antigénero à igualdade de género na educação em Portugal

Autores

Palavras-chave:

Políticas Públicas, Género e Educação, Igualdade entre Géneros, Educação

Resumo

Este artigo examina as resistências à implementação de políticas de mainstreaming de género na educação em Portugal, destacando as dinâmicas de poder e as inefetividades que têm dificultado a integração de uma perspetiva de género no sistema educativo. Fá-lo analisando informação secundária, produzida no âmbito de avaliações de instrumentos de política, de documentos oficiais e da análise de controvérsias públicas. A partir desses dados, e com base num caso exemplificativo, explora como a emergência dos movimentos e forças antigénero tem condicionado e contestado as políticas de igualdade de género. O artigo discute ainda como a judicialização e a mediatização de casos controversos têm contribuído para enfraquecer o impacto das políticas de mainstreaming de género no setor da educação.

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Biografia do Autor

Rosa Filomena Brás Lopes Monteiro, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (UC), Coimbra, Portugal

Doutorada em Sociologia do Estado, do Direito e da Administração. Professora auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; Investigadora do Centro de Estudos Sociais. Tem investigado as desigualdades de género no mercado de trabalho, nas organizações, e nas políticas públicas. Coordena o projeto Women4Digital – Género na paisagem das TIC em Portugal: que lugar para as mulheres?, financiado pela FCT/PlanApp.

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Publicado

17-12-2024

Como Citar

Monteiro, R. F. B. L. (2024). Resistências institucionais e antigénero à igualdade de género na educação em Portugal. Cadernos De Pesquisa, 54, e11410. Recuperado de https://publicacoes.fcc.org.br/cp/article/view/11410

Edição

Seção

Artigos