Cadernos de Pesquisa

Autismo e políticas públicas brasileiras: Nomeações, representações e ausências

Cláudia Felisbino — 2024-11-07

Este artigo objetiva compreender como as distintas nomeações impactam a escolarização de sujeitos com autismo. Faz uso da teorização foucaultiana e seu conceito de normalização, e investiga como as políticas públicas brasileiras produzem o transtorno do espectro do autismo nas escolas. O material de pesquisa constitui-se de 32 documentos oficiais publicados entre 1994 e 2020. A análise do material possibilitou compreender como a área da educação, ao eleger os modos da área da saúde ao nomear, posicionar e conceber o autismo nos documentos educacionais, corroborou a pulverização de atravessamentos e estranhezas sobre o tema, no ambiente escolar. Conclui-se que os diferentes modos de nomear colaboraram para o processo de in/exclusão que estudantes autistas enfrentam na escola atualmente.

Desafios e controvérsias da formação ética nas universidades de Bogotá

Catalina López Gómez — 2024-11-14

Analisamos, com uma abordagem mista, a incidência institucional na formação em ética e cidadania das universidades de Bogotá. Na fase quantitativa, estimamos o efeito das universidades no módulo de competências cidadãs da prova Saber Pro no ano de 2022, utilizando análises de regressão multinível, e realizamos uma classificação de desempenho. Na fase qualitativa, incluímos três universidades confessionais. Fizemos pesquisas com estudantes sobre sua experiência nos cursos em relação a esses temas e entrevistamos professores e diretores sobre as orientações institucionais para o ensino da ética, a aplicação na sala de aula e a avaliação. Concluímos mostrando que uma visão tradicional da formação ética pode estar afetando negativamente o desempenho dos estudantes em competências cidadãs.

Formação docente em escrita e didática específica: Rumo a um modelo formativo

María Jesús Espinosa — 2024-11-19

Esta pesquisa qualitativa e interpretativa tem como objetivo analisar como as experiências da escrita universitária moldam o desenvolvimento das habilidades da escrita e o conhecimento didático dos futuros professores. Foi realizado um estudo de caso com dois professores em formação, que submeteram dois textos (um acadêmico e outro não acadêmico) e participaram de uma entrevista semiestruturada. As descobertas mostram como os professores implementam o processo de escrita e as suas competências de reflexão metalinguística e flexibilidade retórica em duas experiências de escrita, e como constroem identidades flexíveis como escritores. Nesta pesquisa, propomos um modelo para a formação em escrita baseado nas oportunidades e desafios identificados na pesquisa.

Estudar… E depois o quê? Contextos e dilemas da juventude rural espanhola

Manuel Tomás González-Fernández — 2024-11-01

Este artigo aborda tópicos fundamentais para a compreensão do fenômeno denominado “descapitalização juvenil” no meio rural espanhol. Explora-se, assim, o papel das representações e das características demográficas e socioeconômicas do meio rural, dos condicionantes de classe social e gênero, assim como a incidência da formação do desenho das políticas de desenvolvimento na geração de expectativas de migração ou permanência por parte dos jovens e das jovens rurais. O fundamento empírico desta reflexão é oferecido pelos resultados de uma linha de pesquisa de mais de uma década no campo da juventude rural, que integra métodos quantitativos e qualitativos que demonstram a necessidade de atender a juventude e desenvolver ações específicas para ela.

Transporte escolar rural: Limites e oportunidades para a enraizamento da população

Julio A. del Pino-Artacho — 2024-11-05

No contexto do forte despovoamento que as áreas rurais experimentam e da contínua falta e investimento em serviços públicos em regiões de baixa densidade populacional, o texto aborda o impacto do transporte escolar como sistema para garantir não apenas o acesso à educação, mas a própria permanência das famílias rurais e a atração da população jovem. Com o uso de dados de registro e pesquisa, por um lado, e de entrevistas com informantes-chave e a população rural, por outro, realiza-se uma abordagem da acessibilidade, analisando infraestrutura, mobilidade para os estudos e as estratégias domésticas e comunitárias que a sustentam. Os resultados sugerem diferentes linhas de políticas públicas para garantir a acessibilidade escolar nos assentamentos rurais.

Direito linguístico-educacional para alunos surdos e o “além-acessibilidade”

Vanessa Regina de Oliveira Martins — 2024-09-19

Este artigo problematiza o impacto da lógica da acessibilidade na educação de surdos promovida pela política inclusiva, que reduz a expressividade e visualidade da língua de sinais a um instrumento de acesso ao conhecimento escolarizado. A análise dessa lógica foi realizada através de uma cartografia filosófica de documentos legais, fundamentada nas filosofias da diferença e nos estudos de Nancy Fraser sobre reconhecimento e redistribuição para a justiça social. Os resultados evidenciam a distinção entre acesso e direito linguístico-educacional, sublinhando a necessidade de uma política linguística que tenha impacto na educação, no sentido de reconhecer a dispersão territorial da comunidade surda e diferenciá-la das comunidades indígenas e de imigrantes.

Crianças e história: O tempo como conceito e a narrativa da temporalidade

Maria Aparecida Leopoldino — 2024-09-04

O artigo problematiza a ênfase no tempo cronológico nas aulas de História para crianças nos primeiros anos do ensino fundamental, refletindo sobre o tempo histórico. Retoma-se a perspectiva de Koselleck para pensá-lo como conceito, assim como o relaciona com a narrativa, como tratou Ricoeur, e, fundamentalmente, compreende-o na relação entre a experiência da infância e a memória, tal como abordou Walter Benjamin. Ressalta-se a experiência do narrar e da memória na aprendizagem de temporalidades, destacando o seu lugar na experiência histórica que interessa à discussão sobre a aprendizagem diante da proposta da Base Nacional Comum Curricular. Conclui-se que esse caminho possibilita especificar a História não apenas como uma disciplina escolar, mas também como prática social.

Meninos do campo? Projetos educativos e laborais de jovens da horticultura

María Virginia Nessi — 2024-10-29

O artigo busca conhecer os projetos educacionais e profissionais de jovens de famílias horticultoras no cinturão verde do município de General Pueyrredon (PGP). Desse modo, a partir da análise dos itinerários educacionais e profissionais e suas projeções intermediárias nesses âmbitos, buscar-se-á compreender quais planos os jovens vinculados ao espaço rural e, em particular, à produção horticultora fazem. Considerando a heterogeneidade dos itinerários, será evidenciado como os projetos futuros contam com diferentes graus de compromisso com o espaço rural e com a produção, evidenciando diferentes formas de “permanecer rural”. Este estudo foi realizado com uma abordagem qualitativa, com entrevistas realizadas em profundidade com jovens de famílias durante 2018 e 2022.

“Reginaldo Prandi”, terceira mulher de Xangô: Leituras errantes de nomes próprios

Claudia Rosa Riolfi — 2024-09-11

Para compreender narrativas, é necessário entender como se chamam seus personagens e lugares. Entretanto, pouco se sabe a respeito de como, ao ler, estudantes do quinto ano do ensino fundamental − anos iniciais − recuperam correferentes que permitam o discernimento de nomes próprios. Visando a analisar como esse processo se dá, convidamos 159 participantes, de 9 municípios brasileiros, para reagir a questões cujas respostas são nomes de pessoas e localidades. Descobrimos que 50% dos participantes não conseguem ligar os nomes de um texto da literatura afro-brasileira com os segmentos necessários para interpretá-los. O artigo expõe os desafios relativos à língua, ao texto e ao discurso possivelmente correlacionados com a construção das hipóteses equivocadas feitas pelas crianças.

Yvonne Jean: Um olhar sobre a Escola Regional de Meriti, RJ, 1948

Juarez José Tuchinski dos Anjos — 2024-11-05

Tomando por fonte o relato de uma visita da jornalista belgo-brasileira Yvonne Jean à Escola Regional de Meriti em 1948, o objetivo deste artigo é construir uma compreensão dessa narrativa sobre méritos e deméritos, sucessos e insucessos, inovações e problemas do modelo educacional praticado na escola e tendo em vista os desafios próprios da educação brasileira daqueles tempos. De início, a atenção recai sobre as práticas inovadoras da escola de Meriti conforme a descrição e interpretação de Yvonne Jean; depois, o foco se concentra nas ponderações críticas dela sobre o modelo de escolarização da escola visitada, instituição particular dirigida por uma partidária da Escola Nova e que se destacava no cenário do estado do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense.

Comissão de heteroidentificação e classificação racial de estudantes pardos

Adriana S. R. Dantas — 2024-10-01

De que forma a escolha por cotas para ingresso no ensino superior público e a passagem por uma comissão de heteroidentificação afetam a percepção sobre a classificação racial de estudantes pardos que ingressaram em uma universidade pública? Este artigo procura responder a essa questão a partir de uma pesquisa que explorou, por meio de entrevistas aprofundadas, qual percepção estudantes pardos têm sobre seu pertencimento racial e se a escolha por cotas e a passagem por uma comissão de heteroidentificação tiveram algum efeito sobre ela. Os resultados mostram que essas experiências contribuíram para reformular como se dá a classificação racial de alguns estudantes pardos.

A produção sobre educação escolar indígena em teses e dissertações no Brasil

Marcineia Vieira de Almeida Santos Tupinambá — 2024-10-25

Na busca por um olhar mais panorâmico sobre a educação escolar indígena como política educacional, este artigo apresenta os resultados da primeira etapa da pesquisa de doutorado, pautados na pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa. Os resultados demonstram que há uma diversidade de subtemáticas sendo investigadas na educação escolar indígena e que os destaques envolvem os estudos sobre os princípios que a alicerçam, aspectos legais de implantação da escola indígena, a educação infantil indígena e a relação com os componentes curriculares.

Chaves didáticas e organizacionais de práticas inovadoras segundo os professores

Gabriel H. Travé González — 2024-09-11

O objetivo deste estudo é analisar as características das chaves didáticas e organizacionais de práticas inovadoras desenvolvidas nas escolas. Seguindo os princípios da metodologia qualitativa, realizaram-se entrevistas com 21 docentes responsáveis por práticas inovadoras de centros na província de Huelva (Espanha). Para a análise dos dados, identificaram-se 2 categorias emergentes, 11 dimensões, 90 códigos e 448 citações. Entre os resultados, destaca-se o desenho de propostas que incorporam mudanças metodológicas orientadas para a significatividade da aprendizagem, a abertura à comunidade e a flexibilidade dos agrupamentos dos alunos. As conclusões ilustram que as práticas impulsionam mudanças nos níveis didáticos e organizacionais dos centros, a fim de fomentar a aprendizagem significativa e de competência dos alunos.

Grupos de diálogo como metodologia de pesquisa em educação

Tamiris Pereira Rizzo — 2024-08-01

Este artigo apresenta a ferramenta teórico-metodológica dos grupos de diálogo e tem como objetivo refletir sobre a urgência de processos comunicativos e educacionais dialógicos que ultrapassem o horizonte da tolerância e promovam práticas transformadoras. Exemplificamos possibilidades e limitações da metodologia e perspectivas de contribuição à construção de agendas de estímulo à participação social e democrática, sobretudo no enfrentamento da desinformação. Essa reflexão é fruto de um processo de revisitação de experiências concretas de aplicação dos grupos de diálogo, no marco de quatro projetos de pesquisa no campo da Educação em Ciências e Saúde, três nacionais e um estadual, realizados entre os anos de 2018 e 2023.

Ensino médio: Criando um projeto moral para gerenciar o futuro dos jovens

Alice Casimiro Lopes — 2024-07-23

Focalizo discursos que têm contribuído para que o sintagma projeto de vida carreie sentidos na tentativa de regulação do futuro dos jovens, por meio da educação moral. Em uma abordagem teórico-discursiva e desconstrucionista, operando centralmente com as noções de sedimentação e tradução/suplementação, argumento que o discurso do projeto de vida tenta instituir a impossível harmonia social, associada à racionalidade neoliberal articulada a demandas ultraconservadoras. Discuto que tais registros acenam a uma impossível sociedade sem antagonismos e sofrimentos em um futuro a ser programado. Concluo, defendendo a importância de se deixar o porvir ao por vir e questionando a normatividade da proposta curricular para o ensino médio por intermédio do componente curricular projeto de vida.

Assessores pedagógicos no ensino fundamental: Quem são e como organizam seu trabalho

Norma Nélida Reséndiz-Melgar — 2024-08-27

Esta pesquisa qualitativa explora a assessoria em algumas escolas de educação básica de um estado do sudeste mexicano. Por meio de questionários e entrevistas, revela que, apesar de sua diversidade, a assessoria compartilha elementos comuns: uma dupla experiente, um discurso persuasivo, uma prática orientada à mudança educativa, sedimentada na alteridade e orientada pela pedagogia. Destaca que os assessores enfrentam uma mudança concomitante, pois devem modificar seu papel docente e tornar-se companheiros dos professores e, ao mesmo tempo, promover mudanças em outros professores. Da mesma forma, conclui-se que a assessoria requer o fortalecimento da sua identidade diante dos altos e baixos da política educacional, cujo centro deve ser a defesa do direito à educação e à aprendizagem.

Desigualdades de gênero em STEM: O caso das acadêmicas universitárias no Chile

Claudia González-Cid — 2024-03-15

A partir de um quadro conceitual, procuramos compreender as desigualdades que as mulheres acadêmicas vivenciam na área STEM, considerando os diferentes mecanismos de subalternidade das mulheres. Adotamos uma perspectiva de gênero para compreender as configurações estruturais e de poder que afetam as mulheres, bem como uma perspectiva interseccional dada a configuração complexa e dinâmica de uma série de eixos de desigualdade que impactam as experiências das acadêmicas. Do ponto de vista técnico, revisamos fontes secundárias, especialmente periódicos indexados. Basicamente, destacamos a articulação entre regime de gênero e regime acadêmico como mecanismo de sujeição que transforma as universidades em espaços de produção e reprodução das desigualdades de gênero.

Topografia da formação de professores de História na Amazônia brasileira

Mauro Cezar Coelho — 2024-06-17

O artigo situa os cursos de licenciatura em História localizados na Amazônia, de modo a verificar como eles encaminham a formação de professores. Assume como referência os estudos topográficos, pois percebe os cursos como “terrenos”. O “terreno”, então, é entendido por meio de alguns dos elementos que o constituem: os projetos político-pedagógicos (PPPs) de 10 instituições de ensino superior, totalizando 13 campi, localizadas no Norte do Brasil; e os currículos Lattes, entendidos como documentos basilares da trajetória acadêmica dos 183 docentes dessas instituições. Os dados sugerem que a dimensão didático-pedagógica ocupa espaço diminuto na experiência e na prática dos docentes dos cursos analisados.

Heurísticos para pesquisar a sociogênese das disciplinas escolares

Raúl López-Castelló — 2024-08-21

Numerosos heurísticos têm servido ao estudo sociogenético da realidade escolar e das matérias ensinadas. Para sistematizar seu potencial conjunto, é preciso realizar um balanço e repensar, a partir de suas contribuições, um marco teórico-metodológico que permita avançar no desenvolvimento do campo de estudo, contemplando a complexidade de relações que ocorrem na existência e no devir das matérias escolares e relacionando-a com a possibilidade de mudanças educativas. Assim, este artigo realizou uma revisão dos estudos originais e das reflexões posteriores em torno de alguns desses heurísticos, mostrando sua natureza, pontos fracos, potencialidades e possibilidades de inter-relação.

Pessoas com deficiência e as cotas do Sisu: Mapeamento dos critérios de elegibilidade

Adriana Pagaime — 2024-06-13

Esta pesquisa, exploratória e de análise documental, mapeou os critérios de elegibilidade à política de cotas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), para estudantes com deficiência, estabelecidos por 62 universidades federais. Foram analisados os editais e os termos de adesão dos processos seletivos de 2019, a partir dos fundamentos do modelo social de deficiência, da Convenção sobre os direitos da pessoa com deficiência e da Lei Brasileira de Inclusão (LBI). Os resultados indicam que as normas se alinham ao modelo médico e desconsideram a concepção da Convenção e da LBI. Apesar de ser um processo unificado, há significativas diferenças nos critérios e exigências para a comprovação da deficiência em cada universidade, o que pode concorrer para a fragilização da política e da segurança jurídica aos candidatos.

Profissional de apoio escolar e políticas públicas em educação especial

Clarissa Haas — 2024-08-12

Neste estudo, problematizamos as motivações e justificativas que envolvem a demanda por profissionais de apoio escolar nos cotidianos das redes de ensino públicas de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Com ênfase na abordagem cognitiva de políticas públicas, caracterizamos a pesquisa como qualitativa, do tipo exploratória. Realizamos um estudo documental utilizando diretrizes legais e normativas associadas a notícias que abordam o profissional de apoio escolar veiculadas nas mídias. Identificamos nas referidas redes de ensino indícios da judicialização da educação a partir da demanda judicial pelo profissional de apoio escolar; de valorização excessiva do apoio individualizado na lógica da deficiência como incapacidade; e da consequente patologização da política pública.

Violência escolar no Chile: Desafios a partir da visão docente

Nibaldo Benavides-Moreno — 2024-06-12

Há mais de uma década o Chile impulsiona políticas públicas para reduzir episódios de violência escolar, sobretudo na dimensão identificada como violência da escola. São revistos os alcances do fenômeno e da transcendência das estratégias governamentais de atenção para a docência – como atividade fundamental das atividades escolares. O estudo qualitativo exploratório é baseado em entrevistas a professores de escolas particulares subvencionadas da região de Maule. A análise evidencia o pensamento e as dinâmicas docentes, identificando diversos pontos críticos, que no caso de serem atendidos incidiriam na diminuição da problemática. Finalmente, são formuladas propostas políticas que oferecem orientação e apoio à ação docente nos centros educativos.

Reflexão colaborativa de didatas com base em um self-study interinstitucional

Carolina Martínez-Galaz — 2024-04-26

Apresenta-se um self-study exploratório com cinco formadores de professores especialistas em didática das ciências e da matemática de diversos países. A fim de caracterizar os processos reflexivos da comunidade, são realizados grupos de discussão nos quais são analisadas gravações das aulas dos formadores. Mediante uma análise de conteúdo identificamos dois tipos de intervenções preponderantes na reflexão dialógica: perguntas que levam a aprofundar a prática do outro e avaliações de seus aspectos significativos. Além disso, os aspectos pedagógicos da sala de aula e seu vínculo a elementos teóricos parecem caracterizar o conteúdo da reflexão. Esses processos reflexivos permitem ressignificar a prática dos formadores e mostram potencial em seu desenvolvimento professional.

Falemos sobre o binômio teoria-prática no ensino: Mapeando autores e posturas

Ana Zavala — 2024-08-07

Este artigo discorre sobre as distintas maneiras pelas quais se tem visto a relação entre as teorias de aprendizagem ou de ensino e as práticas educacionais. Aborda, em primeiro lugar, a bibliografia que fazia da teoria da aprendizagem a base de qualquer teoria de ensino que esperasse alcançar bons resultados. Em seguida, defronta-se com os pesquisadores que, observando e analisando a prática do ensino, abrem um caminho promissor em relação às possibilidades de melhorá-lo. Ao final, aparecem os autores que reconhecem os professores como teóricos de suas práticas. A conclusão convida a repensar a ideia de uma relação de teoria-prática no mundo da educação, refletindo, por sua vez, sobre a relação existente entre educadores, pesquisadores e políticos e administradores da educação.

O currículo como espaço de acolhimento

Susana Yepes-Cardona — 2024-03-15

Neste artigo apresentamos os resultados de um estudo qualitativo que explorou os modos de existência de um grupo de alunos em um contexto escolar na cidade de Medellín. Os métodos utilizados foram entrevistas semiestruturadas, narrativas escritas e narrativas visuais. A partir da análise temática, é possível dar sentido ao currículo como um espaço acolhedor onde a flexibilidade, a hospitalidade e a familiaridade se destacam como características fundamentais nas interações do cotidiano escolar. Destaca-se a força das propostas educativas flexíveis para os alunos deslocados involuntariamente, pois propõem elementos que formam um espaço que os acolhe com suas histórias pessoais e facilita seu (re)encontro com a escola.

Experiência escolar no ensino médio noturno: Uma análise comparativa

Hamanda Pontes — 2024-06-05

O artigo analisa a experiência escolar no ensino médio noturno de jovens estudantes matriculadas na modalidade regular. Foram realizados oito grupos de discussão com estudantes mulheres, de duas escolas públicas do Distrito Federal, interpretados a partir do método documentário. Os resultados da análise comparativa constataram que a construção da experiência escolar durante o ensino médio noturno, e o conjunto de práticas que a fundamenta, está estruturada por um quadro de orientação constituído empiricamente na relação de conflito que se estabelece entre um padrão institucionalizado de desenvolvimento da carreira escolar e o habitus das estudantes. O problema do desajuste habitual conecta diferentes estudantes do período noturno a um mesmo espaço conjuntivo de experiência.

Pesquisa e inovação responsáveis na área da educação: Uma revisão sistemática

Jéssica Karollayne Pinheiro Lopes — 2024-04-03

Esta revisão sistemática busca identificar quais procedimentos metodológicos são adotados em estudos empíricos sobre pesquisa e inovação responsáveis em educação. Ao total, 5 teses, 3 dissertações e 31 artigos científicos foram extraídos das bases de dados da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, SciELO, Eric e Catálogo de Teses e Dissertações da Capes. Após a análise desses estudos no software Mendeley, apenas 19 atenderam aos critérios de inclusão. Conclui-se que mais pesquisas são necessárias sobre essa temática na área da educação, resultando em uma sociedade na qual as práticas de pesquisa e inovação visem a alcançar resultados sustentáveis, eticamente aceitáveis e socialmente desejáveis.

Ressignificação da avaliação-aprendizagem como prática de liberdade

Andrea Alejandra Rodríguez-Venegas — 2024-04-03

O objetivo do estudo é descrever a ressignificação das compreensões de docentes em formação inicial no tocante à avaliação. Este estudo de caso utilizou uma metodologia qualitativa de alcance exploratório-descritivo. Participaram 29 docentes em formação de uma universidade chilena. A coleta de informação se desenvolveu por meio de entrevistas antes e depois da implementação de um processo formativo baseado no enfoque da avaliação como aprendizagem. Evidenciam-se mudanças em compreensões e práticas, em particular os docentes em formação tomam consciência do caráter social e contínuo da avaliação. Conclui-se que o avaliar-aprender como prática de liberdade emerge de espaços colaborativos e democráticos e implicam uma libertação do medo do erro e da necessidade do controle externo.

Programa de Inovação Educação Conectada: Política de ampliação do capital

Marcos Antonio Alves Filho — 2024-05-14

A pesquisa em tela teve como objetivo compreender os fundamentos teóricos que orientam o Programa de Inovação Educação Conectada. Tendo como método de pesquisa o materialismo histórico-dialético, foi realizada uma análise documental nos documentos oficiais disponíveis no site do Programa. Os dados deste estudo nos possibilitam compreender que os fundamentos teóricos presentes no Programa corroboram a perspectiva neoliberal para a educação. Em função disso, as lógicas determinista e instrumental são as preponderantes na fundamentação do Programa e no modo como busca estabelecer as relações entre as tecnologias e a educação. Além disso, esse mesmo Programa, sob a égide da inovação, abre caminho para ampliar as possibilidades de parcerias público-privadas.

O trabalho com fotografias em sala de aula: Uma análise multissemiótica

Isabela Vieira Lima — 2024-08-02

A fotografia é um gênero bastante recorrente na vida social, mas tem sido relativamente pouco estudada no contexto escolar. Essa proposta está fundamentada na Base Nacional Comum Curricular, que recomenda a inclusão de semioses múltiplas nas atividades de leitura, escrita e interpretação dos alunos, que precisam desenvolver sua capacidade de analisar criticamente o que leem em âmbito visual. Portanto buscamos criar propostas para a análise de fotografias em sala de aula. Com isso, encontramos respaldo metodológico nas categorias de modalização. A partir disso, mostramos como as fotografias integram um contexto discursivo e não podem ser lidas de forma dissociada desse contexto, ou seja, o conhecimento de mundo do leitor é relevante para o processo de produção de sentidos.

Arte-educação por meio da democracia nos institutos federais

Charles Immianovsky — 2024-02-09

Este texto relata uma pesquisa que buscou compreender a relação entre arte e educação democrática no âmbito dos institutos federais em contexto reacionário. Investigaram-se, com base na análise documental e na análise de conteúdo, 24 “textos completos” sobre ações de ensino/pesquisa/extensão em Arte nos institutos federais, publicados nos Anais do II, III e IV Encontro Nacional de Professores de Arte dos Institutos Federais. Os dados analisados indicam que os “textos completos” dos Anais reverberam a relação entre arte e educação democrática no âmbito da perspectiva da educação por meio da democracia, levando à defesa de que eles constituem um conjunto de documentos que expressa a resistência da arte nos institutos federais em contexto reacionário.

A inovação em uma escola vulnerável: Uma experiência de pesquisa-ação

Carmen Gloria Garrido-Fonseca — 2024-01-31

Este texto apresenta os resultados de uma pesquisa cujo objetivo é contribuir para desenvolver práticas pedagógicas inovadoras por meio da instalação de um laboratório de experimentação pedagógica (LAP) em uma escola chilena vulnerável. De acordo com os princípios da pesquisa-ação, foram realizadas 15 atividades formativas sobre práticas inovadoras e instalou-se uma sala especializada. Paralelamente realizaram-se entrevistas, grupos focais e avaliações de processo. Os resultados mostram o seguinte: (1) o potencial da mudança pedagógica; (2) novas formas de habitar o espaço das classes; (3) a avaliação da experimentação pedagógica. Conclui-se que a inovação deve ser um projeto escolar e deve promover uma ampla perspectiva para entender a aprendizagem.

Intersetorialidade e transversalidade: Análise do Brasil Carinhoso (2012-2015)

Maria do Carmo Meirelles Toledo Cruz — 2024-03-04

Nosso propósito é analisar o Brasil Carinhoso, de 2012 a 2015, a partir das lentes teóricas da transversalidade e da intersetorialidade, destacando, ainda, as dimensões do cuidado. O Brasil Carinhoso foi uma iniciativa federal voltada ao desenvolvimento infantil, articulando educação, saúde, assistência social e nutrição. Com base em uma análise qualitativa de documentos oficiais e de entrevistas, evidenciamos uma concepção intersetorial do programa, abrangendo inovações no financiamento e na gestão, ainda que sua implementação tenha sido, em grande medida, setorial. A transversalidade de gênero não foi identificada, nem mesmo na concepção da iniciativa analisada, especialmente porque as abordagens de cuidado do Brasil Carinhoso deixam de considerar quem cuida, enfocando apenas quem é cuidado.

Fatores que impedem que as mulheres acadêmicas obtenham pós-graduação

Andrea Fuentes Ortega — 2024-02-02

O estudo identifica as dificuldades enfrentadas pelas universitárias para obter pós-graduação. De natureza qualitativa, a pesquisa coletou experiências de estudantes que não possuem pós-graduação, realizando uma amostragem teórica, com entrevistas semiestruturadas. Os resultados da análise apontam dificuldades econômicas para financiar uma pós-graduação; a exigência de especialização não docente, uma vez que a academia não é sua principal fonte de trabalho; a maternidade e a criação dos filhos, que exigem maior dedicação; e o pouco tempo disponível. Conclui-se que essas barreiras poderiam ser superadas com maior apoio à carreira docente, uma vez que, até o momento, ela é considerada um espaço enriquecedor profissionalmente, mas que demanda muito tempo e oferece escassa recompensa econômica.

Explorando a linguagem neutra com linguistas, professores e pessoas não binárias

Arthur Marques de Oliveira — 2024-09-03

Em quê o “alfabeto das colisões” pode servir a pesquisadoras em educação?

Marcos da Rocha Oliveira — 2024-09-09

A subjetividade da experiência de ser negro

Agenor Lopes Filho — 2024-04-05

O sistema público de ensino frente ao neoliberalismo na Espanha e no Brasil

Victor Hugo da Silva Vasconcellos — 2024-03-04

Apresentação – Trabalho doméstico: Registrar e (re)pensar o Brasil

Nadya Araujo Guimarães — 2024-11-05

Fronteiras no trabalho remunerado em domicílio: Dilemas analíticos e identitários

Anna Bárbara Araujo — 2024-11-05

Neste artigo refletimos sobre o trabalho remunerado nos domicílios brasileiros. Procuraremos observar a diversidade das suas configurações, seja pelo prisma da literatura acadêmica, seja à luz de dados mais recentes, que nos permitem dimensioná-lo. Assim, mostraremos como serviços domésticos e de cuidado figuram na literatura ora de maneira fragmentada, como campos distintos, ora de maneira articulada, subsumidos em um campo mais amplo, obrigando a encarar dilemas analíticos desafiadores. Evidenciaremos, também, como os recentes movimentos do mercado de trabalho não apenas estimulam novos enquadramentos teóricos, como deixam pistas para entender a produção e diluição das fronteiras entre tais ocupações, iluminando os dilemas identitários que se colocam.

Os sentidos do afeto nos estudos sobre trabalho doméstico

Jurema Brites — 2024-11-05

O objetivo deste artigo é analisar como o afeto é articulado no campo de estudos sobre trabalho doméstico no Brasil. A partir de uma revisão bibliográfica do tema, destacamos como cada corrente teórica evidenciou os processos de desigualdades e/ou de emancipação por meio dessa categoria analítica. Ressaltamos os estudos embasados no feminismo marxista, as análises antropológicas sobre gênero e família e os estudos decoloniais. Compreende-se que o afeto é interpretado ora apartir de teorias que enfatizam as bases estruturais de opressão, ora por perspectivas que englobam as assimetrias de poder e as possibilidades de agência e negociação das trabalhadoras domésticas. Finalmente, apresentamos estudos de caso durante a pandemia da covid-19.

Sempre elas? Valores e divisão do trabalho doméstico em perspectiva comparada

Felícia Picanço — 2024-11-01

De que forma os valores de gênero e as práticas em relação ao trabalho doméstico variam segundo os contextos nacionais e as características dos indivíduos? Para responder a essa pergunta, o artigo analisa os dados do Family and Changing Gender Roles, do International Social Survey Programme (ISSP), elegendo as questões sobre os valores de gênero e práticas na divisão do trabalho doméstico de 41 países de diferentes continentes através de análise multinível. Os resultados indicam que gênero, escolaridade, horas trabalhadas, religião e religiosidade influenciam valores e práticas de gênero. Mas, enquanto o contexto nacional no qual as pessoas vivem afeta os valores de gênero, os países se mostram muito mais homogêneos no que se refere às práticas relacionadas à divisão sexual do trabalho.

Serviço doméstico e equiparação legal: Disputa argumentativa e fatores associados

Alexandre Barbosa Fraga — 2024-11-05

O objetivo do artigo é analisar a tramitação e os argumentos favoráveis e contrários à aprovação da Convenção n. 189 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2011, e da “PEC das Domésticas”, no Congresso Nacional brasileiro, em 2013, regulamentada em 2015. Também busca examinar os possíveis fatores associados para essa quase equiparação legal dos trabalhadores domésticos ter se dado apenas naquele momento, e não anteriormente. Para isso, a metodologia utilizada é a análise de documentos produzidos durante os debates na OIT e no Congresso Nacional. Os resultados demonstram a disputa entre argumentos centrados em justificações, de um lado, econômicas e, de outro, social e ética. Indicam, ainda, um conjunto de seis fatores associados para a equiparação tardia.

Ativismo das trabalhadoras domésticas: Da cozinha à arena nacional e internacional

Joaze Bernardino-Costa — 2024-11-05

Este artigo discute o ativismo político das trabalhadoras domésticas e sua importância para os avanços legais da categoria. Para tanto, retornamos à fundação da primeira Associação das Trabalhadoras Domésticas no Brasil e passamos pela organização nacional da categoria por meio de seus congressos nacionais e sua extensão à arena internacional. O que vemos nesse longo processo é uma articulação política com os movimentos classista-sindicais, movimento negro e movimento feminista. Constatamos que, em todos os momentos de avanços legais, o ativismo político das trabalhadoras estava presente. Independentemente de as trabalhadoras domésticas conquistarem ou não uma equiparação legal e de fato com os demais trabalhadores, registramos essa história exitosa, que pode ser vista como uma luta decolonial.